A ocupação do espaço público pelas mulheres descrito por Sennett (carne e pedra) se deu no cotidiano como demonstração do seu lugar de suporte do masculino e de suas propostas. No entanto, o autor demonstra que na Roma antiga era permitido às mulheres celebrações religiosas no espaço exterior ao espaço urbano, em cavernas e grutas, enquanto a celebração na cidade era realizada sob muros e telhados, durante as madrugadas. Essa prática dúbia e movediça pode ser descrita nesta proposta analítica como uma prática que perpassa séculos, países e territórios. Coube à mulher “ajeitar” o cotidiano e quando a mulher emerge como uma força de trabalho considerável, em particular no desenrolar da Segunda Guerra Mundial Hobsbawn (1990) esse segmento social leva consigo esta marca identitária e fundacional. Cabe a este artigo discutir em que medida a construção desta identidade - o feminino - que hoje se apresenta como uma categoria polissêmica - gays, transexuais, mães, esposas, filhas, chefes de família, mulheres de sucesso profissional e acadêmico, dentre outras denominações - enfim, uma pletora de arranjos e opções que formam este ambiente de compreensão do que seja o feminino. Ao lado desta contextualização temos também outras identidades de maneira similar pujante e que também disputam a cena pelo reconhecimento e agregação de forças no ambiente público. Portanto, não se espera definir o feminino enquanto uma acepção unívoca, mas aguarda-se compreender como podemos lançar luzes na compreensão deste feminino no contexto de participação social, em particular na definição da agenda das políticas públicas.
