Nossa proposta de trabalho tem por objetivo analisar o processo de organização e participação política – para além do âmbito do Estado – da população do município de Ribeirão das Neves, Minas Gerais, Brasil, por meio de ações culturais desenvolvidas por coletivos, grupos, artistas e agentes culturais da cidade a partir de uma visada democrática. Ribeirão das Neves é parte da Região Metropolitana de Belo Horizonte, município constantemente referenciado por seus índices de pobreza, pela presença de presídios e presente no imaginário social como “cidade-dormitório”. Compreendemos que a ação de coletivos, grupos e artistas da cidade, nos últimos anos, tem contribuído, por meio da cultura, para uma mudança de olhar em relação aos problemas e potencialidades do município, pois ao expressar a diversidade de práticas culturais e sociais de sua população, por meio de produções teatrais, musicais e saraus, tais agentes criam, junto aos moradores, elementos positivos de reconhecimento e pertencimento à cidade. Nosso referencial teórico trata-se da teoria democrática participativa, cuja ideia de participação não assume somente o exercício do direito ao voto e, portanto, não se limita ao momento eleitoral. Diferente das teorias econômicas e elitistas, as teorias participativas dão especial ênfase à legitimidade alcançada por meio da ampliação dos canais de participação nos diferentes espaços da vida dos cidadãos, tais como as escolas, universidades, bairros, movimentos sociais, família, coletivos, clubes e local de trabalho. O entendimento ampliado da participação leva-nos a discutir sua importância para se alcançar importantes ideais democráticos como o desenvolvimento da cidadania e a dimensão coletiva da democracia, como um valor compartilhado pelos membros de uma mesma sociedade. Compreendemos que a relação entre democracia e cultura é uma “via de mão dupla”: uma política cultural pode ser mais amplamente fomentada por meio de valores democráticos; e a cultura enquanto uma dimensão da vida humana tem importante contribuição na construção de valores e modos de vida democráticos. Neste sentido, procuramos demonstrar como a cultura pode ser compreendida como fator de desenvolvimento social e catalisadora de processos participativos em esferas não-governamentais.
